Autorizar-se analista = “Des-ser”na Solidão


Para falar sobre autorizar-se analista pensei em dois verbos diferentes, mais análogos a este fim, ou talvez começo. O verbo não -ser, para falar do  “des-ser”, e o verbo descer. Inicio pelo descer.
Descer do pedestal mal ajambrado, boquirroto, caricato do psicanalista: o pedestal do mestre, daquele que tudo sabe ( embora o propósito seja o suposto saber)  pelo qual tremulamos nossa bandeira , invisível é claro, mas como o sujeito lacaniano, flutuando ali entre um significante e outro.
Descer da pose narcísica, do nosso pobre eu ideal psicanalista, especulado, paranoicamente invejado de algum outro a quem algum dia acreditamos fosse veramente “ o analista”.
E descendo tal qual um daqueles velhos “modernos elevadores”, que despencam fosso abaixo, para depois estancarem sem o menor aviso, fazendo nossos estômagos colarem ao cérebro, causando um misto de frisson e náusea, chacoalharmos nossas crostas intelectuais, e então e só então, depois de mergulharmos nos confins de nossos infernos singulares, nus nos perguntarmos: “Autorizar-se analista?”

Para pensar no des-ser...
Lá, bem no início da nossa formação teórica somos banhados cada um à sua maneira , por um manancial intelectual e muitas vezes doutrinário que acaba por nos inserir numa cultura psicanalítica esquartejada.Esquartejada, à maneira psicótica, sem qualquer laço, nem pensar em nó.
E a partir daí, desenlaçados, desatados, descompromissados,  vamos nos acreditando conhecedores da psicanálise. Mas, sem conhecer dores, principalmente as nossas próprias, somos um bando de cegos-surdos, mas infelizmente não-mudos. E assim, falando desenfreadamente, apoiados em algumas muletas teóricas, saímos aos quatro ventos (para convencimento próprio) bradando: “Sou psicanalista”.

Seis semestres são exatamente a medida cronológica deste curso de formação. E daí?
O que começa a partir de... e o que finda, o que funda?
O que começa, só os incautos pensam saber.
Findam, seis semestres de discursos tortos, questões interrompidas, anotações caóticas,experiências não tão bem sucedidas,seis semestres caros, por que não dizer caríssimos.
Fundam a angústia ,exatamente isto, nada menos que tudo isto, e nada mais que nada disto.Dúvidas, questões, muitas questões. Ah!Quanto era sábio Sócrates quando se dizia sabedor de uma ignorância progressiva.ou seja “ Quanto mais sei, só sei que nada sei”.
Loucura?
Não! Psicanálise e um tal desejo sobre o qual aposto todas as minhas fichas e em seu nome me apresento totalmente  sem mestres apócrifas,  desvestida de qualquer lógica existencialista,  profundamente comprometida com o não-saber, acreditando na falta, e apostando neste  “des- ser” solitário, reconhecido como o desejo do analista.
E assim, incauta como a maioria de nós, inculta como creio dever ser para não me certificar de “Saber”, acreditando na dor de existir, me autorizo a ser não-sendo, portanto des- sendo na solidão: analista.

Renata Zancan

Comentários

  1. Renata, seu texto é uma pérola e me ajudou a organizar a sensação desagradável de estar num mundo caótico, com informações desorganizadas e conceitos que se perdem num corpo que tenta ocupar o lugar de analista de uma forma torta. Esse lugar repleto de curvas acentuadas...
    Quero sua permissão para postar seu texto em meu blog www.bergasse.blogspot.com
    Abraços.
    Cláudia.

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  2. Renata, não esperei a permissão, já publiquei, seu texto, que é bom demais para ficar restrito ao site de vcs!
    Escolhi uma imagem para ele, espero que vc goste.
    Abraços.

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