Poema: Renata Zancan


Solidão (Mulher)*

Cabeça baixa, cabelos em desalinho,
sentada ao relento era a mulher
um casaco quase vermelho,
costurado há um instante qualquer.

Olhos... Em oceano de tristeza,
naufragavam mansamente.
Enquanto a vida bem ao lado
caminhava nua, impunimente.

Mãos... Secas, esvaziadas de saudade,
seguravam a velha bolsa guardiã
de já perdida identidade,
testemunha de uma historia vã.

Pés... Imóveis, semimortos
cruzados diante de si,
atestavam sós mais uma parte de corpo
que foram até ali.

Personagem de outra cena,
“estar” sem dono,
memória de um outro tempo
assinado pelo abandono.

Respirava sem pressa
sem ritmo, sem compasso.
Respirava o mais além
de um tempo já há muito escasso.

Alheia aguardava
talvez a morte distraída,
que num lapso a deixara
ali viva esquecida.

Renata Zancan

*Poema pertencente a coletânea de outros poemas ainda não publicados.
Publicação autorizada pela autora exclusivamente para este blog.

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